Algumas palavras (doídas) sobre ‘A Pérola Negra do samba’, musical sobre Jovelina, bamba do pagode carioca
12/10/2025
(Foto: Reprodução) A atriz Afro Flor personifica Jovelina Pérola Negra (1944 – 1998) no musical em cartaz no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro (RJ), até 9 de novembro
Luiz Antônio Pilar / Divulgação
♫ PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR
♬ Quando soube que ia estrear musical sobre Jovelina Pérola Negra, fiquei animado para ver o espetáculo – até porque o texto era de Leonardo Bruno, autor de musical sobre Leci Brandão que me encantara em janeiro de 2023. Mas admito que já cruzei o foyer do Teatro Carlos Gomes com a animação abalada pelo comentário de amigo de coração grande que vira o musical A Pérola Negra do samba dias antes de mim. Detectei nas falas educadas desse amigo uma certa decepção com a dramaturgia do espetáculo em cartaz no Centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ), de quinta-feira a domingo, até 9 de novembro.
Ao assistir ao musical idealizado por Leonardo Bruno com Luiz Antônio Pilar, diretor da encenação estrelada pela talentosa atriz Verônica Afro Flor na pele de Jovelina, entendi meu amigo. Teatro é química. E às vezes um espetáculo não dá liga no todo, por mais que as partes do conjunto sejam louváveis.
O fato é que, para mim, A Pérola Negra do samba não bateu tão forte quanto Leci Brandão – Na palma da mão, musical dirigido pelo mesmo craque Luiz Antônio Pilar. Me dói escrever essas palavras, mas eu sempre fui sincero, vocês sabem muito bem...
Acima de qualquer impressão pessoal, julgo ser importante trazer à cena a história da Pérola Negra, sobretudo a desconhecida luta de Jovelina Farias Belfort (21 de julho de 1944 – 2 de novembro de 1998), mulher valente que driblou o machismo e o racismo estruturais para fazer brilhar a voz, pérola negra do pagode carioca, samba renovado que ganhou projeção nacional ao longo dos anos 1980, revelando bambas como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e a própria Jovelina.
A história está lá. Mas a mágica do teatro não se faz como no já mencionado musical sobre Leci. E eu não consigo apontar o dedo para ninguém. Texto, direção, elenco (formado por Thalita Floriano, Fernanda Sabot e Thiago Tomé, além de Afro Flor) e direção musical (de Rodrigo Pirikito e Matheus Camará) estão afinados.
O único erro mais evidente é o subaproveitamento em cena de Sorriso aberto (1988), samba aliciante de Guaracy Sant'anna (1955 – 1988), o Guará, que se tornou indissociável do canto sagaz de Jovelina, partideira de mão cheia. O samba surte pouco efeito da forma melancólica como é exposto no roteiro do musical.
Talvez a ideia de fazer de uma cebola (personificada com verve pela atriz Thalita Floriano) a mestra-de-cerimônias do espetáculo não tenha resultado tão feliz (e esse me parece o único ponto fraco da boa dramaturgia de Leonardo Bruno).
No mais, tudo parece estar no devido lugar. Por isso mesmo, não entendo porque o musical A Pérola Negra do samba não tenha me cativado. Mas espero que eu e esse meu amigo de coração grande sejamos minoria, porque torço para que o espetáculo seja sucesso e faça bela carreira, pelo talento notório de todos os envolvidos e pela importância de preservar o legado de Jovelina Pérola Negra, grande cantora que deixou saudade e uma respeitosa discografia no universo do samba.